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Torcicolo Muscular Congénito

O que é o Torcicolo Muscular Congénito (TCM)?

É uma alteração musculosquelética que surge em 16% dos bebés recém-nascidos em todo o mundo, com predominância no sexo masculino (3:2).1 Esta alteração resulta do encurtamento do músculo esternocleidomastóideo (ECM) e manifesta-se por flexão lateral da cabeça, para o lado do ECM lesado, com rotação para o lado oposto.2,3

O TCM pode ser detetado no nascimento ou nos primeiros meses de vida do bebé.1

Em 28% dos casos pode apresentar um nódulo ovoide, indolor, no ventre muscular do ECM.1 Este nódulo surge na 2ª ou 3ª semana de vida desaparecendo a partir dos 5 até aos 12 meses3.

O diagnóstico consiste no exame clínico objetivo onde se observa a presença desta assimetria. Para confirmação pode recorrer-se a meios complementares de diagnóstico (preferencialmente a ecografia) para verificar o estado do músculo e para excluir outras causas4.

Porque acontece o TCM?

A etiologia é desconhecida, existem várias teorias sendo as principais relacionadas com o mau posicionamento in útero, que provoca isquemia do ECM 1,3.

Fatores de risco:

  • Bebés com peso e comprimento acima da média;
  • Sexo masculino;
  • Parto de apresentação pélvica;
  • Gravidez múltipla;
  • Primíparas;
  • Complicações no parto e/ou parto distócico (instrumentalizado);
  • Anomalias maternas do útero;
  • Assimetria craniana.1

Que alterações podemos observar?

  • Diminuição da amplitude dos movimentos do pescoço;
  • Rotação para o lado da lesão e inclinação para o lado oposto;
  • Assimetria quando faz a flexão e extensão da cabeça;
  • Incapacidade de manter o alinhamento da cabeça na linha média, relativamente ao tronco, quer em posição estática, quer durante o movimento;
  • Hipertrofia ECM.1

Prognóstico

Poderão surgir alterações estruturais como as assimetrias craniofaciais e deformações na base craniana.1,3 Estas fazem surgir movimentos compensatórios que podem comprometer o desenvolvimento do controlo motor e aparecimento de escolioses.5,6 No entanto o prognóstico do TMC é tanto melhor quanto mais precoce for iniciada a intervenção. Através de tratamento conservador 90 a 95% das crianças melhoram antes do primeiro ano de vida e 97% melhoram se intervenção for iniciada antes dos primeiros 6 meses.1,7

 

Referenciação para Fisioterapia

A evidência científica demostra que um diagnóstico precoce associado a um tratamento igualmente precoce é indicativo de melhores resultados. Neste sentido, quanto mais cedo for referenciado para fisioterapia prevenimos o desenvolvimento de sequelas secundárias reduzindo o tempo de tratamento.

Em que consiste a avaliação do bebé?

  • Avaliar o desenvolvimento motor e verificar se esta de acordo com idade do bebé;
  • Avaliação das assimetrias e respetivas amplitudes de movimento, tanto ativas como passivas;
  • Avaliação da força muscular da musculatura da cervical;
  • Avaliação das assimetrias craniofaciais e a forma do crânio. 8

Quais são os objetivos da intervenção da fisioterapia no bebé?

  • Aumentar a Amplitude de Movimento ativa e passiva;
  • Favorecer a postura simétrica, facilitando a motricidade global e o desenvolvimento músculo-esquelético, cognitivo, sensorial e visual;
  • Reduzir o uso de suporte/equipamento ambiental que pode aumentar a assimetria;

Objetivos e benefícios para os pais/cuidadores:

  • Permitir que os pais sejam cuidadores ativos e efetivos;
  • Sugerir adaptações ambientais no quarto e locais de brincar da criança;
  • Capacitar os pais, através da educação, para a implementação de intervenções com o bebé entre as sessões de fisioterapia;
  • Ajudar os pais a entender os fatores que contribuem para a assimetria;
  • Alternar a posição de decúbito dorsal (barriga para cima) como posição infantil preferida pelos pais, com atividades em decúbito ventral, de lado e sentado durante atividades supervisionadas8.

Para conseguir uma sinergia entre fisioterapeuta e pais é muito importante enquadrar todos este objetivos nas atividades diárias do bebe de modo a contribuir para motricidade global e fina bilateral, promovendo o desenvolvimento e a aprendizagem atual e futuro.9

Referências Bibliográficas

  • (1) Brandão, A. (2012) Caracterização da prática do Fisioterapeuta na sua intervenção em crianças até um ano de idade com Torcicolo Muscular Congénito. Tese de Mestrado em Fisioterapia apresentada à Escola Superior de Técnologias da Saúde de Lisboa
  • (2) Kaplan, S. Dole, R. Schreiber, J. (2017) Uptake of the Congenital Muscular Torticollis Clinical Practice Guideline into Pediatric Practice. Pediatric Physical Therapy.
  • (3) Shepherd, R. (1996) Fisioterapia em Pediatria 3ª ed. Santos São Paulo
  • (4) Lillo, S., & Haro, M. (2014). Usos Prácticos De La Toxina Botulínica En Ninos Y Adolescentes En Medicina Física Y Rehabilitación. RevistaMedicina Clínica  Condes
  • (5) Jung, A. Y., Kang, E. Y., Lee, S. H., am, D. H., Cheon, J. H., & Kim, H. J. (2015). Factors that Affet the Reabilitation Duration in Patients With Congenital Muscular Torticollis Annals of Reabilitation Medicine
  • (6) Bastos S. Almeida J. Veiros I. Bártolo M. Ribeira T. Nunes R. (2014) Torcicolo Muscular Congénito. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação.  Vol 25 Nº1 Ano 22
  • (7) Pagnossim, Luciane Zanusso, Schmidt, Augusto Frederico S., Silva, Joaquim Murray Bustorff, Marba, Sérgio Tadeu M Sbragia. Lourenço. (2008). Torcicolo congénito: avaliação de dois tratamentos fisioterapêuticos. Revista Pauista Pediatria, 26 (3):245-50
  • (8) The American Physical Therapy Association (2013) Physical Therapy Management of Congenital Muscular Torticollis: An Evidence-Based Clinical Practice Guideline – from the section on Pediatrics of the American Association
  • (9) Mélo, T. R. (2016). Fisioterapia em pediatria as principais alterações musculoesqueléticas congênitas: atualiazações teórica e prática. Revista Uniandrade

 

Fisioterapeuta Cláudia Silvestre  | One Clinics Oeiras

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