“Parece que a voz não sai”, “tenho dificuldade em falar”, “canso-me com frequência”, “demoro mais tempo a mastigar”, “falta-me o ar para acabar as frases”… São as frases mais ouvidas por quem procura a terapia da fala após ter estado infetado com Covid-19. São sequelas de quem enfrentou o vírus e cujas consequências não são apenas do foro respiratório.
Fazendo um paralelismo com a terapia da fala, têm sido reportadas implicações neurológicas e musculares, com repercussões ao nível da voz, da deglutição, da linguagem, da memória, do processamento de informação e até da escrita. A par destas, podem ainda verificar-se sequelas ao nível da voz e da deglutição, decorrentes da intubação ou da fraqueza muscular derivada de estar acamado durante várias semanas, em alguns casos em coma induzido e ligado a aparelhos de suporte básico de vida.
Enfrentam-se alguns cenários derivados do avanço do vírus e à quantidade de pessoas que necessitam dos mais diversos cuidados médicos e hospitalização. Para além das sequelas diretas de ter contraído o vírus, temos ainda as consequências da ventilação mecânica invasiva, em especial nos casos graves da doença. Esta intubação está associada a uma prevalência e gravidade de lesão laríngea, que pode originar disfagia (dificuldade em engolir) e disfonia (alterações na voz), durante ou após a intubação. E as evidências são claras, demonstram que quanto maior for o tempo de intubação, maior a prevalência e a gravidade das lesões laríngeas encontradas após a remoção do tubo. Também a emergência no momento da intubação, o tamanho do tubo, a posição do paciente na altura e a necessidade de voltar a ser intubado, originam um agravamento dos fatores de risco.
A presença do vírus origina ainda períodos de tosse intensa e prolongada, difícil de evitar, e a produção excessiva de muco, cuja limpeza é usualmente feita através de tosse e/ou pigarro. Estes comportamentos representam um esforço exacerbado que pode originar inchaço ou inflamação das pregas vocais (habitualmente denominadas cordas vocais), dificultando a produção da voz e originando um maior desconforto e cansaço ao falar. Por outro lado, estar doente e, inclusive, receber tratamento hospitalar, pode ser emocionalmente desgastante. E emoções e voz estão intimamente relacionados, por isso não é estranho que mesmo não sentindo nada na garganta ou não tendo estado intubado, se observem alterações na qualidade vocal.
As orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) vão no sentido de se contar com vários especialistas na recuperação do indivíduo, tendo em conta as suas necessidades individuais, e de se efetuar uma avaliação ao nível de todas as alterações sofridas de modo a delinear um plano de ação que contemple essas mesmas áreas.
E porque se fala em Terapia da Fala, há a salientar que hoje se comemora o Dia Europeu da Terapia da Fala. Este dia foi criado em 2004 pela European Speech and Language Therapy Association (na altura denominava-se CPLOL – Comité Permanent de Liaison des Orthophonistes / Logopèdes de l’Union Européenne) com o objetivo de aumentar a consciencialização sobre esta profissão e as suas áreas de atuação. Este ano, o tema não poderia ser mais oportuno, o foco de 2021 é na Teleprática e nas Novas Tecnologias.
Catarina Olim, Helena Ribeiro, Sónia Lima, Terapeutas da Fala Da Arte e Fala, em Parceria com o Grupo One Clinics
Adicionar comentário