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A fisioterapia como terapia preventiva nos jovens atletas: lesão do Ligamento Cruzado Anterior

Os benefícios associados ao exercício físico (onde se engloba a prática desportiva federada) para a saúde dos seus praticantes têm vindo a ser identificados de forma consistente ao longo dos últimos anos por investigadores, nomeadamente na redução do risco de desenvolvimento de osteoporose, obesidade, e doenças crónicas – cardiovasculares, diabetes e cancro. Para os jovens atletas, nomeadamente aqueles em idade escolar, os benefícios da prática desportiva estendem-se ainda a questões de nível psicológico – promoção do bem-estar, diminuição do stress, ansiedade e depressão, característicos da fase da adolescência – e social. A prática de uma modalidade federada devidamente organizada é uma ferramenta válida para o desenvolvimento do autoconceito e autoestima do atleta, aquisição de valores socialmente aceites e desenvolvimento de competências sociais e de autogestão que permitem uma superação constante e aproveitamento escolar contínuo.

No entanto, não se pode de forma alguma ignorar os riscos associados à prática desportiva, pois isso seria colocar em causa o grande paradigma defendido por cientistas, profissionais de saúde e do exercício ao longo dos anos: o de que a prática de exercício físico é benéfica.

O principal risco associado ao desporto federado é a lesão. Uma das articulações mais visadas durante a prática desportiva é o joelho, por estar constantemente sujeito a forças que variam em intensidade e direção. Por isso mesmo, o joelho é uma das articulações onde ocorre um maior número de lesões (15% a 30% de todas as lesões desportivas), que muitas vezes requerem uma paragem prolongada. A rotura do ligamento cruzado anterior (LCA) representa 50% do total de lesões da articulação do joelho e é responsável por 60% das cirurgias realizadas por lesão desportiva a jovens atletas entre os 16 e 18 anos (dados da população americana). O impacto desta lesão nos jovens atletas não se traduz apenas em repercussões a curto prazo – a necessidade, na maioria dos casos, de intervenção cirúrgica -, como também a médio prazo – a longa duração de tempo de recuperação (6 meses a 1 ano), que leva o jovem atleta a atingir níveis de ansiedade e/ou depressão que podem afetar o seu aproveitamento escolar – e longo prazo – maior probabilidade de desenvolver dor crónica e osteoartrose no joelho 10 a 20 anos após a lesão.

Qual será então a solução para os jovens atletas, pais ou treinadores quando confrontados com esta problemática? A resposta é algo simples e até se ajusta ao velho ditado português “mais vale prevenir que remediar”. Pois bem, a prevenção de lesões, embora não sendo uma prática regularmente aplicado no desporto português, é essencial para combater esta problemática O fisioterapeuta, embora surja como o profissional responsável pela reabilitação de lesões em contexto desportivo, deve ter também um papel ativo na prevenção das mesmas.

Articulação do joelho – Estabilidade

O joelho é uma articulação complexa do membro inferior que conecta os ossos do fémur, tíbia, perónio e rótula. Para garantir a sua estabilidade é necessária uma interação constante entre músculos, ligamentos e claro, o sistema nervoso e suas terminações nervosas, presentes nos ligamentos. Essas terminações captam informação (inputs) acerca da posição da articulação, que são conduzidas até ao cérebro, que por sua vez as interpreta e envia mensagens de reação para os músculos (controlo neuromuscular), permitindo, por exemplo, ajustar a posição antes de realizar um remate à baliza quando a bola, inesperadamente, ressalta e descreve uma trajectória inesperada. O mesmo processo se traduz numa situação de lesão eminente, ou seja, o nosso corpo é capaz de reagir perante esse perigo, podendo evitar uma lesão ou impedir que o grau desta seja mais grave.

 

LCA – O que é?

O ligamento cruzado anterior é um dos quatro principais ligamentos responsáveis pela estabilidade do joelho, mais concretamente, da articulação tibiofemoral (conexão entre o fémur e a tíbia). A função dos ligamentos é garantir estabilidade à articulação, impedindo que esta se movimente para lá dos graus que lhe são fisiologicamente permitidos. Cada ligamento é responsável por impedir um movimento específico. No caso do LCA, este impede a translação anterior excessiva da tíbia.

 

Mecanismo da lesão

Como os ligamentos são pouco elásticos, quando colocados em stress, ou seja, quando a articulação realiza um movimento com amplitude excessiva, estes vão partir, originado uma rutura das suas fibras. Normalmente o mecanismo de lesão associado à rutura deste ligamento é o de rotação interna da anca (joelho valgo), no qual o joelho vai para dentro. A situação de lesão normalmente ocorre em movimentos sem contacto.

Programa de Prevenção

Fatores de risco

Após ser identificada a problemática da incidência e severidade da lesão que desencadeia a iniciativa do programa de prevenção, é necessário reconhecer quais os fatores de risco presentes em cada jovem atleta, dependendo das suas características (fatores de risco intrínsecos) e o risco associado às características do desporto praticado (fatores de risco extrínsecos).

FATORES DE RISCO
Intrínsecos Extrínsecos
Sexo feminino com maior probabilidade de
contrair a lesão por:
• Menor capacidade de contração dos
músculos que estabilizam o joelho
• Maior laxidão ligamentar
• Menor resistência do lca, propriedade que
fica fragilizada durante o período de
ovulação e menstruação devido à alteração
das concentrações hormonais
• Duração do jogo
• Necessidade de mudanças de direção a
alta velocidade e saltos
• Tipo de superfície onde decorrem os
treinos e jogos
• Calçado
• Material de proteção
• Condições climatéricas
Fraqueza ou desequilíbrios musculares
Dificuldade de coordenação motora

Princípios subjacentes

Para realizar um programa de prevenção bem-sucedido, é necessário que este seja ajustado àquilo que é a realidade da equipa ou atleta e às características do desporto, de modo a conseguir ser integrado no treino. Atualmente, os programas de prevenção são geralmente inseridos no período de aquecimento, e devem potenciar 4 componentes:

  • Controlo neuromuscular (utilizando exercícios de propriocepção e equilíbrio)
  • Força muscular do membro inferior e core
  • Agilidade (exercícios de técnica de contacto ao solo e mudanças de direção específicas da modalidade)
  • Capacidade aeróbica

Quando bem delineado e adaptado aos jovens atletas, de acordo com as suas características e da modalidade que praticam, sabe-se que os programas de prevenção de lesões têm resultados positivos, como demonstram alguns estudos, que apontam para uma redução do risco de lesão de 25% quando os exercícios são efetuados 3 vezes por semana.

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Fisioterapeuta Leonor Serralheiro One Clinics Barreiro

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